Germes Entre Dias Brancos

Germe é estágio inicial de algo. Origem de um novo ser. Várias metamorfoses se alastram por toda a parte, e o poema é um conjugado de vozes maliciosas e igualmente propícias à vivência solitária e coletiva. Voz de todos e fala de ninguém. Germe de um rito comum.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A um Gérmen de Augusto dos Anjos

A um gérmen

 
Começaste a existir, geléia crua,
E hás de crescer, no teu silêncio, tanto
Que, é natural, ainda algum dia, o pranto
Das tuas concreções plásmicas flua!

A água, em conjugação com a terra nua,
Vence o granito, deprimindo-o ... O espanto
Convulsiona os espíritos, e, entanto,
Teu desenvolvimento continua!


Antes, geléia humana, não progridas
E em retrogradações indefinidas,
Volvas à antiga inexistência calma!...


Antes o Nada, oh! gérmen, que ainda haveres
De atingir, como o gérmen de outros seres,
Ao supremo infortúnio de ser alma! 


terça-feira, 19 de abril de 2016

Aos vivos Bandeira, Lobato e Antero

Ontem (18) hoje (19) e, além de abril, todos os dias, sempre:
Manuel Bandeira, Monteiro Lobato e Antero de Quental aos vivos

Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
-- O que eu vejo é o beco.

MANUEL BANDEIRA: Como não lembrar do morro do Curvelo, seu quarto num beco e a estonteante e vertiginosa paisagem do Rio que se abre de uma imensidão e beleza... "Simples e pobríssimo poeta lírico", como dizia de si, poeta de temperamento introspectivo, voltado ao recolhimento íntimo, em busca da vida circundante, da descoberta do outro. Bandeira sempre atento à poesia disfarçada e errante, despercebida numa notícia de jornal, numa frase ouvida no bonde... Todos os dias a poesia reponta onde menos se espera.

A perspectiva surrealista: "Hotel Península Fernandes"
O haicai numa fórmula de cosmético: Água de rosas / Ácido bórico / Essência de mel de Inglaterra

O bicho que viu entre os detritos numa página do cotidiano.

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem


***        ***

De MONTEIRO LOBATO E ANTERO DE QUENTAL publiquei há alguns anos uma crônica, que penso ser atualíssima e praticamente a transcrevo.

Até há pouco os ideais marchavam à frente, e muitos de nós os perseguíamos como costumam os cães fazer. Os ideais eram sólidos e palpáveis, e não nos queixávamos do médico que nos curara da loucura. Temos tantas razões hoje para recusarmos os grandes ideais que suspeito ser esta a razão de sermos indiferentes à história e, pior, tristemente liberados de toda obrigação para com ela, se obviamente isso fosse possível.
Quando os traficantes de penas e essências chegam dia a dia à fortaleza da selva amazônica trazendo notícias de comércio e violência, carregando arranha-céus dentro de valises, os altíssimos lucros não bastariam para devolver a muitos de nós as velhas crenças? E aí mano, o que que tá pegano? Os ideais não se reencantam novamente nas bocas dourando a existência para um real que não fosse só vaidade. De que tu estás a falar, ô gajo?
Cada um de nós pensa ser tantos apelos que mal cabemos em nossa subjetividade autoafirmativa de quereres e (a)fazeres. No limite, muitas vezes se experimenta tanta multiplicidade e fragmentação que à aceitação do diferente não corresponde um lastro de sanidade. Nacionalismos extremados e radicalismos de direita estão na ordem do dia na Europa e na América Latina. Homofobia e misantropia de fundo patológico ganham prestígio nas redes de relacionamento na internet. Assustador!

Lobato e Antero: arianos talvez não muito típicos (segundo as representações astrológicas), coragem e heroísmo impulsionaram suas vidas. Intelectos avantajados pelo estudo, homens de aguda consciência política e militância. Cada um em seu tempo e lugar de atuação (Brasil e Portugal) foi intelectual engajado em grandes causas. Ambos homens públicos influentes que compartilharam o fogo e o espírito prometeico. Combativos extremados, titãs solitários: o português Antero de Quental e o brasileiro Monteiro Lobato. Ambos nascidos a 18 de abril, data instituída aqui como Dia Nacional do Livro Infantil e do Editor. E...
... a literatura é um complexo de palavras com foros de impasse, porque sempre está a desvelar a realidade que se oculta e a nos provar que o que se desvela é dinâmico e multifacetado... O século XX não acabou ainda. O XIX é aquele cadáver ignorado no armário que as midiáticas atenções vez ou outra iluminam. 

Um país se faz com homens e livros, disse um. O outro: – Não vos queixeis, ó filhos da ansiedade, // Que eu mesmo, desde toda a eternidade, // Também me busco a mim... sem me encontrar.
***    ***
Vale a pena lê-los, ou esquecê-los?



sábado, 9 de abril de 2016

Germes na formação de um Leitor

Graças à lucidez de Jorge Luis Borges podemos nós poetas dizer que os grandes versos da humanidade ainda não foram escritos. Temos nós então alguma razão para prosseguir. Os poetas que chegam têm seus guias espirituais. Todo leitor apaixonado ou inquieto tem seu Drummond como guia. Ou seu Borges. Seu Kafka. Dentre meus guias ocupam posição de destaque Murilo Mendes, João Cabral, Cortázar e Baudelaire. E é pelas portas e janelas das Flores do Mal que me abriu com sua fantasia e versos,  cinismo e tédio, exagero e medo  Baudelaire conduzindo-me como mestre e meu desigual irmão!


quinta-feira, 31 de março de 2016

Quando os Germes se tornam uma combinação explosiva de TNT e Angus Young

- Coisa de alienado?!
- É Golpe!
- ?
- Coisa de gênio!

(Homenagem de aniversário ao Angus: um pacoval, seguido de Duckwalk de Angus Young para os calhordas de plantão no C*... e demônios enrustidos de bons sujeitos.)




xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii: TNT
   <<<    cabum   >>>

sexta-feira, 25 de março de 2016

TRaNSFoRMiSMo

Um projeto poético não termina no livro. 
Custa admitir que o ponto final é o livro concluído.
As mãos seguirão gulosas patinhando um pouco mais
entre a fome e o medo desses germes.
Convido-os a seguirem esse rastro às vezes
contagiado de alguma surpresa.